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Dados da Organização Mundial da Saúde apontam o suicídio como uma das causas de mortes. E a terceira causa de nortes entre jovens de 15 a 29 anos.

Em agosto um dos casos que alerta a esses dados foi de um adolescente de 16 anos vítima de ódio nas redes sociais, alertando a pais sobre o problema que exige cuidado e observação do comportamento dos filhos. Nesta entrevista o Pe. Lício de Araújo Vale, sacerdote da Diocese de São Miguel Paulista (SP), membro da Associação Brasileira de Estudos e Prev

“Sentir dor emocional pertence ao universo humano. Não é fraqueza, nem vergonha, tampouco falta de Deus no coração. Essa dor precisa ser olhada, enfrentada, acolhida e tratada. Apenas seguindo cada etapa desse processo minimiza-se a possibilidade de tentar matá-la ou autoexterminá-la. Sim, a pessoa que atenta contra a própria vida quer matar a dor, e não a si mesma. Padre Lício de Araújo Vale.

O suicídio é um fenômeno inexplicável, absurdo e incompreendido e continua afligindo a humanidade. E continua sendo um problema que aflige famílias. A pandemia e o isolamento social acabaram agravando o problema na população jovem, sendo a terceira causa de mortes de adolescentes e jovens de 15 a 29 anos. O adolescente de 16 anos que cometeu suicídio após ataques nas redes sociais lança um alerta aos pais para ficarem atentos sempre e acompanharem os filhos nos acessos a internet.

Com a pandemia os riscos à saúde mental e a automutilação entre jovens aumentaram, com a necessidade de combater o estigma e lançar luzes sobre o problema do suicídio. A vergonha e a ausência de informações dificultam a busca por apoio para depressão, estresse, ansiedade, entre outros transtornos, que comprometem o trabalho de prevenção ao suicídio. Pais e professores, bem como os profissionais de saúde, que estão na linha de frente do atendimento, precisam saber identificar se um adolescente está sofrendo. Buscar respostas às perguntas de diversos jovens e disponibilizará uma aprendizagem proveitosa sobre esse tema tão difícil.

“Uma das grandes dificuldades de quem trabalha com prevenção e posvenção em suicídio, como eu, é responder às perguntas sobre o que se sente, as causas, as consequências e, sobretudo, o porquê de o comportamento suicida instalar-se. Por que alguém tão querido “morreu por suicídio”? Tanto o tema da saúde mental quanto o do suicídio são assuntos tabus. É quase proibido falar sobre eles e, por isso, surgem dúvidas. O comportamento suicida, por exemplo, é o final de um processo contínuo, composto de etapas, que vai se instalando na vida da pessoa com o tempo: ideação (pensamentos recorrentes de morte), planejamento (começa a fazer planos), tentativa de suicídio (tenta executar o plano traçado) e finalmente a morte. Se na prevenção ao suicídio sabemos que “falar é a melhor solução”, ter respostas também é muito importante para poder acolher-entender-ressignificar a dor e a perda. E ter informação colabora na prevenção. Só se faz prevenção ao suicídio com informação qualificada”, pontua padre Lício.

“Cuide de sua dor. Essa é a melhor forma de cuidar daqueles que amamos e com quem relacionamos.” Padre Lício de Araújo Vale

Compreender a dor e ajudar a refazer o luto

“O suicídio é um fenômeno multifatorial e complexo. A OMS o define como: “O ato voluntário de acabar com a própria vida, usando para isso um meio que a pessoa acredita que seja letal”, e apresenta números alarmantes: mais de um milhão de pessoas se matam no mundo por ano, quarenta delas no Brasil; o suicídio é a segunda causa de morte entre adolescentes e jovens no país. Reflita: a cada quarenta segundos uma pessoa morre no mundo por suicídio e a cada três segundos acontece uma tentativa.” Padre Lício de Araújo Vale

O momento da perda de uma pessoa pelo suicídio é necessário ajudar a refazer o luto na família. Sem buscar culpados ou motivos, mas refazer o luto é uma missão difícil. Padres e psicólogos ajudam nesse processo que demanda escuta.

A dor e a prevenção

O caminho é a prevenção. Padre Lício aponta caminhos para a prevenção ao suicídio e destaca a necessidade de observação dos sinais que acabam sendo evidentes. As falas e comportamentos podem sinalizar uma atitude suicida. E buscar ouvir sem julgamentos, mas numa atitude amorosa e diante da comprovação buscar o serviço de um profissional de saúde mental. Observando esses passos é possível evitar o suicídio e ajudar a pessoa a refazer sua vida.

“A vergonha e a ausência de informações dificultam a busca por apoio para depressão, estresse, ansiedade, entre outros transtornos, que comprometem o trabalho de prevenção ao suicídio. Pais e professores, bem como os profissionais de saúde, que estão na linha de frente do atendimento, precisam saber identificar se um adolescente está sofrendo. Uma pessoa sem esperança, muito fragilizada ou com depressão, por exemplo, muitas vezes não tem condições ou iniciativa própria para procurar auxílio; nesses casos, é importante se colocar à disposição e acompanhá-la”, pontua padre Lício.

O sacerdote ressalta que a família desempenha um papel muito importante na prevenção ao suicídio de adolescentes e jovens. O círculo afetivo de uma pessoa tem um papel fundamental importância. Por isso, antes de tudo, é preciso que familiares e pessoas mais próximos tenham uma atitude de escuta empática. Segundo estudos da OMS crescem os casos de depressão entre crianças e adolescentes.

“Ouvir atentamente, entender os sentimentos da pessoa, expressar respeito por suas opiniões, não julgar e mostrar preocupação e cuidado são formas de promover uma conversa aberta, saudável e que proporcione um ambiente seguro. Mas não basta só conversar. É preciso, também, agir! Encorajar a busca por auxílio médico, indicar apoio emocional especializado, fortalecer a rede de apoio dessa pessoa e, principalmente, restringir acesso a métodos possíveis de suicídio são as principais formas de ação”, disse.

É necessário ainda ter atenção já que conviver com uma pessoa em depressão não é uma condição fácil, mas a forma de se relacionar com ela pode ser o grande amparo de que necessita para enfrentar a doença. E necessário não esperar a doença piorar para pedir ajuda médica e de confiança.

“Se for o caso, seja incisivo: Eu já liguei para o médico e eu mesmo te levarei à consulta”; ter paciência para conviver com uma pessoa deprimida; entender que a pessoa não está neste estado porque escolheu e sim porque está doente; Mostre interesse na pessoa, passando a mensagem de que “qualquer coisa, estamos aqui” e de fato estar; Incentive a pessoa a fazer alguma atividade, mas caso ela recuse, respeite este momento, ou, seja condescendente: “Tudo bem, se você não quer sair, nós podemos ficar em casa juntos”; Informe-se sobre a doença e acompanhe o tratamento”, aconselha padre Lício.

Ajudar os jovens a encontrarem o sentido para a vida

“Eu penso que a primeira coisa que nós precisamos fazer é rezar pela pessoa, interceder a Deus por ela, para que ela não caia na tentação de uma tentativa. Então, primeira dica: intensificar a oração e intercessão pela pessoa. Segunda dica: estar próximo, o mais afetivamente possível. Um cuidado maior deve-se ter com quem já tentou suicídio. Os estudos mostram que a pessoa que tentou suicídio, ela tem um risco maior de tentar novamente, também está próximo afetivamente e sempre motivar a pessoa a cuidar de si mesma e das suas dores de alma”.

“Nos casos em que se considera poder existir risco de uma nova tentativa de suicídio é importante nunca deixar a pessoa sozinha e sempre que possível acompanhar e ajudar no tratamento, levando e participando das sessões de psicoterapia e seguindo as orientações dadas pelo psicólogo (a)”.

“Outra coisa importante, é também observar se a pessoa está tomando a medicação indicada de maneira correta, de acordo com tratamento planejado pelo psiquiatra, e nesses casos é importante se colocar à disposição e acompanhar a pessoa”, aconselha padre Lício.

Evitar o suicídio: missão dos sacerdotes.

“O suicídio pode ser prevenido. Gosto sempre de lembrar que o conceito de prevenção é no sentido de minimizar os riscos. O primeiro passo é ficar atentos aos sinais de risco; a grande maioria das pessoas que atentam contra a própria vida dão sinais: sinais de falas (diretas), por exemplo:” eu quero morrer. ” “Eu vou me matar”, eu não aguento mais isso”, “Se eu morrer tudo melhora. E também frases indiretas, tais como: “Eu estou pensando em fazer uma grande besteira, “Se isso acontecer de novo, eu acabo com tudo” “Eu não mais o mesmo, “acompanhadas de mudanças comportamentais. É importante ficar atentos às mudanças de comportamento tais como: comportamento retraído, isolamento, olhar distante e dificuldade de manter contato, queda no rendimento escolar, a pessoa começa a faltar no trabalho, mudança de humor, irritabilidade, pessimismo, apatia, mudanças na rotina de sono. Então, é muito importante avaliar os riscos”.

“Segundo passo: chamar a pessoa para conversar e ouvi-la com amor, com carinho, com afeto, sem julgar, sem condenar, sem despejar discursos religiosos, inclusive. Ser capaz de acolher a dor do outro. Nunca desqualificar a dor do outro com frases tipo: “Você está querendo se matar por causa disso? “Mas, você tem tudo?” Dor não se compara. Para nós que estamos de fora pode parecer uma bobagem, mas dói muito para quem sente aquela dor. Nunca comparar a dor: “Você está querendo se matar por causa desse sofrimento, e às crianças que estão com câncer?” Dor não se compara. Só sabe o tamanho e a intensidade da sua dor aquele que a sente. O segundo passo importante na prevenção de suicídio é ser “acolhe dor”, ser capaz de acolher a dor do outro”.

“O terceiro passo é não ficar indiferente ou paralisado, ou seja, buscar incentivar a pessoa a buscar ou mesmo conduzir, (uma pessoa sem esperança e muito fragilizada, como quem tem depressão, por exemplo, não tem a iniciativa própria de buscar ajuda), até um serviço de saúde mental como o CAPS, por exemplo, ou um profissional de saúde mental, como psicólogo e/ou psiquiatra. A direção espiritual feita por um sacerdote também pode ser grande valia. Muitas vezes as pessoas estão tão mal que não conseguem buscar ajuda”, conclui padre Lício.
Superar o luto: refazer o sentido da perda

A Igreja é mãe e como mãe deve cuidar e ajudar seus filhos a viverem e superarem o luto, na firme esperança da ressurreição. O objetivo do luto é permitir que a dor inicial vá amenizando, deixando apenas a saudade. Este processo pode variar de acordo com a proximidade com a pessoa que se foi, assim como as circunstâncias de sua despedida e a rede apoio ao seu redor.

É comum que este luto seja vivido em estágios diferentes. Para alguns, a percepção inicial é de raiva pelo que aconteceu. Outros, tentam negar a tristeza da perda, fingindo que nada aconteceu. São poucos os que têm a serenidade para aceitar imediatamente a partida como algo natural.

Jesus também sentiu a dor da perda

Por mais que você saiba que esta hora vai chegar, perder alguém é sempre uma dor muito grande. Mesmo em caso de doenças de longa duração, o sentimento de vazio toma conta. E a verdade é que até mesmo Jesus chorou quando Lázaro morreu.

Ou seja, é normal sofrer quando alguém se vai. Se trata de um momento de vulnerabilidade, e algumas pessoas chegam a sentir até mesmo dores físicas quando são afetados por alguma morte. As lágrimas servem para exacerbar esse momento necessário.

A morte é uma parte natural da vida

Por mais que não pareça, morrer é tão importante e natural quanto nascer. O fim da vida, mesmo que traga dor, faz parte da evolução humana.

Infelizmente, algumas vidas são interrompidas no que parece ser antes da hora. No entanto, o morrer nem sempre vem acompanhado de explicações. Talvez essa seja a maior dificuldade de quem não sabe lidar com uma perda.

Como fazer para se sentir mais preparado

Mesmo quem acompanha o processo até uma morte não está preparado para viver sem seu ente querido. Isso não impede, porém, de tentar aproveitar ao máximo os últimos momentos.

Recorrer à fé

Também é interessante tirar um tempo para si, analisando como será sua vida depois dessa despedida. Ter consciência de como serão as dificuldades pode te ajudar a antecipar soluções para os momentos mais difíceis.

E essa consciência inclui preparar sua vida emocional e espiritual.

A perda de um ente querido pode trazer alguma dúvida existencial. Ter fé e seguir alguma religião pode ajudar muito a passar pelo período de luto sem tanto sofrimento. Além de acreditar que a morte é apenas uma passagem para o encontro com Deus, existem também os rituais que garantem algum conforto.

Os velórios, por exemplo, ajudam a lembrar do Cristo ressuscitado. O acolhimento da comunidade vai além de velar o corpo, mas em estar próximo aos que sofrem pela perda. Os cânticos, orações ou terços entoados servem como uma maneira de aquietar o coração.

Para as missas de corpo presente, com comunhão, o luto pode extravasar através da certeza de que quem faleceu foi de encontro a Deus. Já a missa de 7º dia serve muito mais para a família se reencontrar e celebrar a vida do falecido. Ainda que a tristeza continue grande, são os momentos de maior aprendizado.

Após as principais fases do luto, o tempo e a religiosidade acabam apaziguando o sofrimento. Pode demorar dias, semanas ou meses, mas a sensação de tristeza diminui, dando lugar para a saudade.

É nesse momento que as lembranças passam a ter mais significado. A morte volta então a ser algo natural, que precisa acontecer, mesmo que não se compreendam Seus desígnios. E essa é a maneira como a Igreja nos ajuda a passar pelo luto.

A maneira como se percebe Deus faz muita diferença na maneira como se encara a morte. Ao ter certeza de Sua presença bondosa e justa, a ansiedade pelo fim da vida é amenizada.
Assim como a religião nos ajuda a passar pelo luto, a fé no amor de Deus nos conforta nesse momento tão difícil. Não esquecendo de visitar e dar apoio espiritual à família, além de rezar pela alma do adolescente ou jovem que se matou.

Ricardo Gomes – Jornalista

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